11 de fev. de 2025

"Chove Chuva ..."

“Chove Chuva ...”

(“Rain Drops Are Falling on my Head...” - This text is written in a way to ease comprehensive electronic translations9

 

Klaus H. G. Rehfeldt

 

Não haveria vida em nosso planeta sem a permanente circulação da água, continuamente passando pelos ciclos de evaporação e precipitação. Entretanto, a intensidade desses fenômenos naturais não é constante. Trata-se de fenômenos naturais que, apesar de parecerem aleatórios, obedecem à rígidas lei físicas.

 

Em princípio, a evaporação se dá em decorrência do aquecimento da água de rios, lagos e mares, quando átomos ou moléculas no estado líquido ganham energia suficiente para passar ao estado gasoso, misturando-se à atmosfera. Paralelamente, existe a evaporação parcial ou total da água consumida pela fauna e flora, significativamente menor, mas ainda expressiva quando consideramos que uma árvore adulta da floresta amazônica pode evaporar até 1.000 litros por dia (vide texto “Os Rios Flutuantes” no mesmo blog).

 

O ciclo da água se completa com a precipitação da água evaporada e contida na atmosfera em forma d chuva, granizo ou neve. Como sabemos não se trata de um fenômeno contínuo, mas episódico, ou seja, em determinadas condições a atmosfera descarrega a água em forma de vapor de água e condensada nas nuvens.

 

Entretanto é preciso observar que os diversos tipos de nuvens causam nenhuma, ou diferentes tipos de precipitação. Assim, nuvens altas entre 6.000 e 13.000 m de altura (nuvens cirrus) não provocam chuvas, apenas são sinais de mudanças de tempo. Já as nuvens de média altura, isso é, 2.000 a 6.000 m (altostratus e altocumulus), são nuvens que produzem chuvas de pouca intensidade, mas prolongadas. Há ainda as nuvens de baixa altura, até 2.000 m (diversos tipos de stratus), cujas precipitações podem variar entre garoa a chuva moderada a forte e contínua, ou neve; associadas a sistemas frontais, isso é, e grande extensão. Por fim, temos as nuvens chamadas de desenvolvimento vertical (cumulus e cumulonimbus), que costumam causar chuvas intensas (trovoadas, granizo, e chuvas torrenciais) e podem causar tempestades severas.

 

Aqui impõe-se a pergunta: quanta água está contida numa nuvem? Base para essa resposta é saber a capacidade máxima de vapor d’água no ar com humidade de saturação (100%). Essa capacidade varia de acordo com a temperatura do ar, variando de 9,4 g/m3 a 10º C para 30,4 g/m3 a 30º C, e para 51,1 g/m3 a 40º C, ou seja, nessa faixa entre 10o C e 40o C, essa capacidade aumenta em espantosos 540%.

 

Ao focar o volume de água contida nos dois tipos de nuvem mais comum com relação às precipitações, temos as nuvens stratocumulos (chuvas moderadas e prolongadas) e cumulonimbus (chuva intensa, tempestade).

 

Uma nuvem stratocumulus retém dezenas a centenas de toneladas de água, mas sua precipitação é mínima devido à distribuição de gotículas e à estabilidade atmosférica típica dessas nuvens. Suas precipitações podem ocorrer em qualquer época do ano. E a cada variação positiva de 5º C, a capacidade de retenção de água aumenta de 40 a 50%, isso é, elas tendem a ser mais volumosas e prolongadas no verão do que no inverno.

 

No caso das cumulonimbus, uma nuvem típico pode se estender um volume de 1 a 10 quilômetros cúbicos (1 km³ = 1 bilhão de metros cúbicos). Nuvens maiores, como as supercélulas, podem ultrapassar 15 km de altura e ter volumes ainda maiores. Por outro lado, a capacidade de retenção de água varia de 1 a 3 gramas por metro cúbico (g/m³). Dessa maneira, uma nuvem média desse tipo contém aproximadamente 500.000 a 1 milhão de toneladas de água. Essa variação depende do tamanho da nuvem e da densidade de água em seu interior. Para referência, 1 milhão de toneladas equivale a cerca de 1 bilhão de litros de água.

 

Semelhante ao caso das nuvens stratocumulus, para cada aumento de 1°C, a capacidade de reter vapor de água de uma cumulonimbus cresce aproximadamente 6–7%. Isso significa que com uma variação de 5º C (nada incomum em tempos de verão), de 675.000 a 1.350.000 toneladas de chuva a mais sobre os valores acima podem contribuir para encharcar o solo ou elevar inundações já existentes. Ao lado disso, movimentações atmosféricas com temperaturas mais elevadas concentram mais energia, resultando em dinâmicas mais intensas na forma de ventos mais fortes e mais velozes.

 

Até aqui, a teoria. A prática podemos observar nos noticiários ao redor do globo. Não há como negar que ao longo dos últimos anos tivemos temperaturas gradativamente mais brandas no inverno e sempre mais elevadas no verão. Portanto, se essa tendência continuar, devemos contar com cada vez maior número, e cada vez mais severas enchentes no futuro. Um agravante dessa realidade é que um aumento médio de temperaturas causa picos positivos desproporcionalmente maiores e, negativos, menores.

 

Resultado: se conhecemos as causas dessa elevação das temperaturas, urge reagir, se não as conhecemos – é o excesso de CO2? o CO2 é apenas parte do prolema? ... –, está na hora de procurar compreendê-las. O que não podemos é ignorar ou negar a realidade em mutação.